O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, participaram do evento. Foi o primeiro encontro público dos dois desde o jantar de “reconciliação” na última segunda (5), em que ambos pediram desculpas mútuas por atritos recentes.
A proposta do governo enviada em setembro ao Congresso não atinge os atuais servidores nem quem vier a ser admitido no serviço público antes da promulgação das regras. A PEC também não mexe na estabilidade ou nos vencimentos desses funcionários públicos.
O texto prevê novas regras apenas para futuros servidores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União, estados e municípios.
O presidente da Câmara disse concordar com o texto original do governo. Ele defendeu que a proposta trate apenas dos futuros servidores e não atinja os atuais.
Maia explicou que alterar um “direito adquirido” e mexer nas carreiras de funcionários que estão na ativa pode “atrasar e judicializar” o debate em torno da reforma.
O deputado ainda disse que, caso o texto seja aprovado e implementado, inicialmente o serviço público contaria com dois modelos de carreira — o dos servidores antigos e o dos novos, já impactados pelas mudanças da reforma. De acordo com o parlamentar, isso ajudará na “competição” e “qualidade do serviço público”.
“Acho que o mais importante é um consenso que existe entre todos nós de que nós devemos tratar de todos os poderes daqui para frente. E o que for para trás podemos tratar por lei, de outras formas para que a gente já possa ter resultados. Mas que isso não não entre no direito adquirido dos servidores porque vai travar a reforma e nós vamos acabar ficando sem nada, nem o futuro e nem resolvendo o passado”, disse.
Ele esclareceu que as regras que envolvem atuais servidores poderão ser tratadas “de outras formas”, em leis futuras.
“Acho que o mais importante é um consenso que existe entre todos nós de que nós devemos tratar de todos os poderes daqui para frente. E o que for para trás podemos tratar por lei, de outras formas para que a gente já possa ter resultados”, afirmou.
Rodrigo Maia disse que a comissão especial da PEC da reforma administrativa deverá ser instalada em duas ou três semanas. O deputado cogitou também a criação de uma comissão mista, com a participação também de senadores, e disse que a Câmara não busca o “protagonismo” e sim uma “união de esforços”.
Comissão apresenta agenda da reforma administrativa
A reforma enviada pelo governo também deixa de fora os chamados “membros de poderes”: parlamentares, magistrados, promotores, procuradores e militares. De acordo com o governo, essas categorias estão sujeitas a regras diferentes das demais.
Maia defendeu que a reforma seja “ampla” e mexa na estrutura de todos os poderes, Legislativo, Judiciário e Executivo.
O presidente da Câmara reconheceu que há “jurisprudência” para que um poder, como o Legislativo, aprove uma lei que altere as regras de outro, como o Judiciário, por exemplo.
Segundo o deputado, o Congresso pode deliberar sobre as mudanças da carreira dos funcionários da Justiça. “Do nosso ponto de vista, nós podemos, sim, tratar de outros poderes”, ponderou.
“Estamos juntos pelas reformas”, diz Paulo Guedes
Com Guedes
Maia e Guedes trocaram elogios durante o evento. Nesta segunda-feira (5), os dois pediram desculpas mútuas após atritos nas últimas semanas.
O presidente da Câmara parabenizou o ministro pelo “esforço enorme” de Guedes ao defender “agendas difíceis”. O ministro da Economia retribuiu agradecendo o apoio do parlamentar.
“O Brasil está acima de quaisquer diferenças que possamos ter, que são pequenas. Agradecer o apoio do presidente Maia, desde o primeiro dia. Estamos juntos pelas reformas. Vamos seguir nessa linha de transformação do estado”, afirmou Guedes.
O documento da frente parlamentar está alicerçado em três eixos: redução de distorções, modernização do processo de gestão de pessoas e segurança jurídica, com objetivos de curto e de médio prazos.
Além da inclusão de servidores atuais e membros de Poder, a frente defende outras mudanças na PEC apresentada pelo governo. Segundo os parlamentares, as mudanças a serem sugeridas em emendas ao projeto incluem:
- proibir licença remunerada para disputa eleitoral;
- proibir aposentadorias e pensões vitalícias;
- possibilitar que o pagamento de abono permanência seja opcional;
- estabelecer a necessidade de processo seletivo para a maior parte dos cargos de liderança e assessoria;
- determinar que lei complementar vai regulamentar a perda do cargo – não uma lei de cada ente, como sugere a proposta do governo;
- retomar a exigência de Escolas de Governo, retirada na PEC, mas sem previsão de impacto nos planos de carreira;
- retirar a possibilidade de extinção, transformação e fusão de órgãos da administração direta, indireta, autárquica e fundacional.
Também participaram do evento no Salão Negro do Congresso Nacional o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade; o presidente da frente, deputado Tiago Mitraud (Novo-MG), e os vice-presidentes da frente, senadores Antonio Anastasia (PSD-MG) e Kátia Abreu (PP-TO).
Projetos de lei
Além dessas alterações na proposta de emenda à Constituição, o grupo defende que outras propostas sejam tratadas por projetos de lei simples – que têm tramitação mais rápida e dependem de menos votos para a aprovação.
A frente parlamentar advoga, no entanto, que esses textos sejam apresentados “em um segundo momento”, após alinhamento com os relatores das matérias. Isso, porque muitas das propostas já estão em tramitação na Câmara, em projetos apresentados em outros momentos.
Veja as propostas dos parlamentares por tema:
- Redução das ‘distorções’ – A frente parlamentar defende a regulamentação das categorias, por meio de um projeto que já tramita na Câmara. Os detalhes, porém, ainda devem ser definidos com o relator.
- Gestão de pessoas – Os parlamentares sugerem a criação de um Órgão Central de Políticas de Gestão de Pessoas, uma ideia que ainda será apresentada ao Poder Executivo. Além disso, o grupo apoia uma “modernização” do concurso público. Neste caso, já há um projeto de lei que tramita na Câmara desde 2003.
- Segurança jurídica – A frente também propõe o aprimoramento da Lei de Improbidade Administrativa. A ideia é aproveitar um projeto que já tramita na Câmara desde 2018. Sem dar detalhes, os parlamentares afirmam que as propostas de mudança serão apresentadas ao relator da matéria.
PEC parada na Câmara
Protocolada há mais de um mês, a PEC ainda não começou a tramitar na Câmara porque a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) está paralisada desde março, para evitar aglomerações em meio à pandemia do coronavírus.
O funcionamento remoto da CCJ depende de uma autorização a ser aprovada no plenário – que tem se reunido por videoconferência. Por falta de acordo entre os partidos, porém, a votação tem sido adiada
Crédito: Fernanda Calgaro, Elisa Clavery e Sara Resende, G1 e TV Globo — disponível na internet 09/10/2020